sábado, 3 de outubro de 2015

De Jucelino a Jango

O governo Dutra representou um recuo aos avanços da primeira era Vargas (1930-1945), por associar-se de forma subordinada ao capital norte-americano sem contrapartidas reais para o desenvolvimento do capitalismo nacional e de divisas que possibilitassem a continuidade da industrialização, eis que este governo baseou-se políticamente em grupos vinculados aos interesses primário-exportadores e pró-norte-americanos. Mais tarde, tanto Vargas como seus sucessores civis iriam sofrer a oposição destes interesses, aglutinados na União Democrática Nacional (UDN) em, em parte, a grupos vinculados à ESG (Escola Superior de Guerra). É importante ressaltar, contudo, que os militares não formavam um grupo coeso. É certo que a maioria era opositora de um eventual regime populista que se transformasse em um regime socialista. Contudo, parcela das Forças Armadas tinham um projeto de desenvolvimento nacional que não excluía nem o capital externo, nem o nacional, e tampouco o estatal. O regime militar irá, assim, adotar e avançar nos princípios esboçados pelos governos de Vargas, manterá as conquistas econômicas dos anos JK, inclusive aprofundando o desenvolvimento econômico nacional, bem como irá redimensionar a Política Externa Independente do período Jânio e Jango, em um contexto internacional mais favorável.


Somente durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-61), que se elegeu pela coligação PTB-PSD, é que o projeto nacional pode ser melhor estruturado em uma conjuntura internacional e interna mais favoráveis. Internamente, a posse de JK e do vice Jango Goulart, fora garantida por setores nacionalistas das Forças Armadas. O crescimento econômico decorrente do Plano Qüinqüenal e da interiorização do desenvolvimento (construção da futura capital Brasília no planalto central), bem com a vinda das grandes indústrias automobilísticas como a WG e a opção pelo modelo rodoviário, com a construção das modernas Brs, trouxe melhores perspectivas para a formação de um mercado interno urbano, desenvolvimento dos serviços, transportes, geração de emprego (e acomodação social momentânea) nos grandes centros. Tudo isto garantiu certa coesão social que se refletiu na estabilidade política dos anos JK. Mas seu desenvolvimento era associado aos empréstimos obtidos em bancos privados internacionais e ao FMI. Se os empregos e desenvolvimento trazidos pelas multinacionias foi importante para o crescimento econômico, os empréstimos trouxeram o problema do endividamento externo, que começaria a trazer impacto negativo para os dois governos seguintes.

No plano externo, a Guerra Fria conhecia novos horizontes. Por um lado, A URSS se tornava uma potência nuclear de primeira grandeza e uma potência econômica que iria desenvolver áreas de influência sob os recém independentes países (ex-colônias européias) do Terceiro Mundo (Ásia e África, esta mais no começo dos anos 1960). O notável crescimento econômico japonês e alemão, aliado ao início do processo de integração europeu, o Mercado Comum (ancestral da União Européia), traziam para o campo capitalista desenvolvido novos competidores para a então supremacia econômica e financeira dos EUA. O cenário mundial era, assim, mais propício para países como o Brasil renovarem sua política de barganhas –OPA-e algum tempo depois, já com Jânio Quadros e Jango Goulart, partir para uma política externa mais ousada e independente em relação aos Estados Unidos e aos centros econômicos e financeiros europeus ocidentais.
No caso da Operação Pan-Americana (OPA), deflagrada pelo Itamaraty (chancelaria brasileira-Ministério das Relações Exteriores), JK buscava atrair a atenção econômica dos EUA para uma América Latina liderada pelo Brasil. A partir de 1959, com a tomada do poder em Cuba, por Fidel Castro, que iria se converter em aliado da URSS, a argumentação brasileira de investir no país a fim de evitar a radicalização política de uma nação estratégica para o capital norte-americano ganha maior atenção dos EUA. No entanto, a diplomacia de JK permanecerá voltada para o contexto latino-americano e ainda relativamente subordinada às relações comerciais e financeiras com os EUA.

Jânio Quadros- Jango Goulart e a Política Externa Independente. PEI

As contradições sociais das reformas econômicas de JK iriam se fazer presente entre os anos 1961 – 1964 e, não demoraria para terem ressonância no campo político, levando ao fatídico golpe de Estado em 1964. Em síntese, podemos dizer que a PEI, lançada pelo chanceler Afonso Arinos, durante os sete meses do governo Jânio, tinha os seguintes objetivos: expansão das exportações brasileiras para qualquer país, mesmo socialistas, a defesa do direito internacional, da autodeterminação e a não-intervenção nos assuntos internos/soberania de outras nações, uma política de paz, desarmamento e coexistência pacífica, apoio à descolonização completa dos territórios ainda dependentes e a formulação autônoma de planos nacionais de desenvolvimento e de ajuda externa. Esta política externa tinha sua lógica em razão das necessidades do desenvolvimento brasileiro, uma vez que precisávamos de mercados consumidores, ao passo que os EUA não contribuíam para nossa economia nos patamares desejados. Com a renúncia de Jânio, seu vice Jango assume a Presidência e o novo chanceler, o jurista Santiago Dantas, irá aprofundar os fundamentos da PEI a fim de utilizar os recursos das relações internacionais para o desenvolvimento nacional. A partir daí, a relação entre desenvolvimento interno e diplomacia ficará mais evidente, principalmente durante o regime militar brasileiro.
A renúncia do presidente Jânio Quadros deflagrou uma crise que só seria encerrada com o golpe de 64. Durante os anos 1961-64, paralelo à aguda deterioração dos termos de trocas internacionais, pelo qual os bens primários que eram ainda a base das economias dos países subdesenvolvidos tinha cada vez menos valor em relação aos bens de capitais (industriais e de consumo sofisticado) dos países desenvolvidos, ocorrerá o esgotamento do modelo iniciado nos anos 1930, com a industrialização por substituição de importações. O Brasil, que tornava-se um país industrializado, com um parque que irá se diversificar ao longo dos anos 50, 60 e 70, já era um país em desenvolvimento, mas que ainda dependia de uma boa colocação de produtos primários nas exportações mundiais. No começo dos anos 60, o país se industrializava, mas as contradições sociais vinham junto, com a pressão dos grupos urbanos (trabalhadores, etc.) e o começo do fenômeno do êxodo rural e da necessidade da reforma agrária no meio rural. Nos anos seguintes e durante o resto da década e da década seguinte (anos 1970), o país, já sob governo militares, irá se tornar um grande exportador de manufaturados (bens industrializados) e exercerá uma real autonomia diplomática em um contexto de mundialização das Relações Internacionais. Contudo, os anos de governo Jango ainda não estavam maduros para suportar politicamente essas mudanças, nem tampouco o país ainda contava com recursos econômicos e coesão social suficiente para lograr uma inserção madura no sistema internacional. Acreditamos e podemos levantar a hipótese de que somente um rápido crescimento econômico com redistribuição da riqueza nacional iria trazer a paz social e a coesão interna que estava se deteriorando com o não atendimento das demandas sociais por mais emprego e renda da maioria da população. A inflação se fazia sentir desde os anos finais de JK, com os problemas estruturais de sempre: custo de vida, queda na oferta de emprego, etc. aliados a cada vez maior vinda de pessoas do meio rural em busca de oportunidades na cidade grande, o que aumenta a possibilidade de tensões sociais. Somente um crescimento econômico com novas políticas governamentais que superassem os limites das políticas trabalhistas/populistas, bem como a existência de uma liderança política capaz de mobilizar amplos (e contraditórios) setores da sociedade poderia ter evitado o golpe militar.

O Segundo Governo Vargas

Em 1951, Getúlio Vargas retornou a presidência da República, dessa vez por meio do voto popular. Vargas se candidatou pelo PTB e recebeu apoio do Partido Social Progressista (PSP), vencendo o pleito de 1950 com 48,7% dos votos. O segundo mandato presidencial de Getúlio Vargas foi marcado por importantes iniciativas nas áreas social e econômica.
Na fase final do seu governo, porém, as pressões de grupos oposicionistas civis e militares desencadearam uma aguda crise política que levou Vargas a interromper seu mandato com um ato que atentou contra sua própria vida: o suicídio.


Nacionalismo e intervencionismo
 
Sem dúvida, um dos maiores legados do varguismo foi a implementação de um projeto desenvolvimentista baseado na forte presença do Estado em áreas consideradas cruciais para o desenvolvimento do país. Atuando como regulador ou empreendedor de certas atividades econômicas, a intervenção estatal tinha por objetivo estimular a industrialização e modernização do país.
Este tipo de política desenvolvimentista começou a ser posta em prática na década de 1930, e praticamente todos os governos que vieram depois adotaram algum tipo de planejamento econômico conferindo ao Estado papel preponderante e central. Foi com esse objetivo que, em seu segundo mandato, Vargas elaborou uma política desenvolvimentista baseada no fortalecimento da indústria de base: siderurgia, petroquímica, energia e transportes.

No primeiro ano de seu governo, Vargas estabeleceu o monopólio estatal sobre o petróleo, a partir de uma campanha de cunho nacionalista que recebeu forte apoio popular. A campanha foi denominada de "O petróleo é nosso", e conseguiu galvanizar o apoio do povo ao governo federal. A partir dela, criou-se a empresa estatal Petrobrás, que monopolizou as atividades de exploração e refino do todas as reservas de petróleo encontrado em território brasileiro.



Populismo e dominação de classe

Umas das principais características políticas do período histórico que abrange o segundo governo de Getúlio Vargas até a queda do governo João Goulart, em 1964, foi o "populismo". O populismo foi um fenômeno que vigorou em praticamente todos os países do continente latino-americano.
De forma sintética, podemos entender o fenômeno do populismo a partir da relação entre o Estado e a sociedade num contexto de regime democrático, onde os líderes políticos e governantes buscam o apoio popular para obterem vitórias eleitorais e implementar seus projetos políticos. A contrapartida dessa política é concessão de benefícios econômicos e sociais para as camadas populares mobilizadas.

Em seu aspecto pejorativo ou alienante, o populismo pode ser caracterizado também como política demagógica de manipulação das classes sociais subalternas, porque seu êxito depende da quase completa desorganização das massas populares, que preferem confiar a defesa de seus interesses e aspirações a líderes políticos carismáticos. As massas populares se prestavam à manipulação devido à pouca experiência de participação política e familiaridade com o sistema de sufrágio eleitoral.



Modernização acelerada

O acelerado processo de modernização do país provocou vertiginosas ondas migratórias do campo para as cidades, fazendo surgir um expressivo contingente de trabalhadores urbanos, ou seja, operariado e classe medias. Foram essas classes sociais que formaram a base de sustentação do populismo. Enquanto os governantes e líderes políticos foram capazes de controlar essas camadas sociais, e o Estado foi capaz de responder plenamente às demandas populares, o populismo funcionou de forma estável.
O governo Vargas, porém, se deparou com situações em que a necessidade de implementação de reformas econômicas e projetos desenvolvimentistas comprometeram a capacidade do Estado de fornecer respostas adequadas aos anseios e interesses populares, como por exemplo, aumento de salários, direitos sociais, etc.

Por outro lado, diversos setores das camadas populares, principalmente o operariado, passaram a se organizar autonomamente, dificultando a manipulação política de seus interesses por líderes demagógicos.

Quando assumiu a presidência da República, Vargas se deparou com um operariado que rapidamente se reorganizava e buscava definir seus interesses e agir autonomamente. No transcurso de seu governo, inúmeras greves de trabalhadores e movimentos sociais tendo como motivação básica exigências de aumento salariais e denúncias do alto custo de vida ocorreram por todo o país.



A crise política e o fim

A ascensão e radicalização dos movimentos populares fora do controle estatal são considerados os principais fatores desencadeadores da crise política que levaria ao fim o governo Vargas. De acordo com essa linha interpretativa, as classes dominantes ficaram temerosas com o avanço dos movimentos populares e discordaram do modo como o governo respondeu às exigências e demandas sociais que irromperam no cenário político.
A oposição ao governo varguista foi crescendo paulatinamente à medida que o país era agitado por manifestações de protesto e greves trabalhistas. Críticas e pressões oposicionistas minaram rapidamente a estabilidade governamental. Na área da política institucional, os principais grupos oposicionistas ao governo de Getúlio Vargas faziam parte da União Democrática Nacional (UDN), que o acusavam constantemente de planejar um golpe em conluio com líderes sindicais objetivando criar um regime socialista no país.

Na área da imprensa, o antigetulismo ganhou força com a atuação do jornalista Carlos Lacerda, que em seus pronunciamentos e artigos denunciava recorrentes casos de corrupção e desmandos administrativos do governo federal.

O presidente se defendia das críticas argumentando que grupos subalternos ligados a interesses internacionais e nacionais se uniram na tentativa de impedir que o governo avançasse na área de proteção ao trabalho, limitações de remessa de lucros das empresas multinacionais para o estrangeiro e fortalecimento das empresas públicas, sobretudo ligadas a área de energia.



Crime da rua Toneleros

Em 1954, a crise política desestabilizou o governo Vargas. No início do ano, o então ministro do Trabalho, João Goulart, concedeu um aumento salarial de 100 por cento aos que recebiam salário mínimo. As pressões de grupos oposicionistas contrárias à medida foram tão violentas que o governo recuou, e o ministro João Goulart foi obrigado a renunciar ao cargo.
O episódio desencadeador da crise final do governo Vargas ocorreu com o atentado fracassado contra a vida do jornalista Carlos Lacerda. Esse episódio ficou conhecido como "o crime da rua Toneleros". Carlos Lacerda apenas se feriu, mas o major da aeronáutica Rubens Vaz morreu.

Nunca foi esclarecido quem foi o mentor do atentado, mas sabe-se que pessoas ligadas a Getúlio estavam envolvidas. As investigações apontaram, porém, que o responsável pela tentativa de assassinato foi Gregório Fortunato, principal guarda-costas do presidente Getúlio Vargas.


 
 
Na imagem, à esquerda, vê-se o título eleitoral de Getúlio Vargas que governou o Brasil de 1930 a 1945 e voltou ao poder de 1951 a 1954. Embora deposto, não sofreu punições. Nem sequer a cassação dos direitos políticos. Assim, foi eleito senador por dois Estados, como facultava a legislação, antes de se candidatar de novo à presidência.
 
 
O suicídio de Getúlio

Depois do episódio da rua Toneleros, os grupos oposicionistas exigiram o afastamento de Vargas da presidência da República. Setores das Forças Armadas e da sociedade civil se uniram aos grupos de oposição e exigiam que Vargas renunciasse. No dia 24 de agosto, um ultimato dos generais, assinado pelo ministro da Guerra, Zenóbio da Costa, foi entregue a Vargas.
O presidente se encontrava no Palácio do Catete, quando redigiu uma carta-testamento e suicidou-se com um tiro no peito. O impacto provocado pela notícia do suicídio de Vargas e a divulgação da carta-testamento foi intenso e acabou se voltando contra a oposição. Grandes manifestações populares de apoio ao ex-presidente estouraram em várias cidades do país.

Comícios organizados por líderes sindicais e políticos ligados ao getulismo responsabilizavam a UDN e o governo norte-americano pelo fim dramático de Getúlio. Órgãos de imprensa, como o jornal "O Globo" entre outros, e a embaixada dos Estados Unidos foram alvo de ataques populares. Greves de trabalhadores também ocorreram como forma de protesto. Depois de algumas semanas, as manifestações e agitações populares cessaram.

Com a morte de Vargas, assumiu o governo o vice-presidente Café Filho, que ficou encarregado de completar o mandato até o fim de 1955. O suicídio de Vargas, porém, acabou sendo muito explorado, tanto por políticos que o apoiavam como grupos da oposição, nas disputas eleitorais legislativas e presidencial seguintes.

 

Uma experiência democrática: Dutra a Getúlio

Com a chegada de Eurico Gaspar Dutra à presidência da República (1946-1951), o país dava mais um importante passo no processo de redemocratização e de ruptura com a ditadura estadonovista. Neste cenário, a criação de uma nova constituição se impunha como algo fundamental à liberalização das estruturas políticas nacionais. Em 1946, uma nova Carta foi, então, elaborada, através dela estavam garantidas as mais diversas liberdades, como de pensamento e expressão, imprensa e organização partidária.
No entanto, a construção da jovem democracia brasileira foi profundamente abalada pelos caminhos que as relações internacionais tomaram no país. Em um contexto mundial marcado pela Guerra Fria, o Brasil de Dutra se alinhou às diretrizes norte-americanas, o que motivou o corte de relações com a União Soviética, além da perseguição a políticos comunistas e, mais exemplarmente, da cassação do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
As relações entre Brasil e Estados Unidos ficaram ainda mais estreitas com a criação da Missão Abbink e da assinatura do TIAR (Tratado Interamericano de Assistência Recíproca). Enquanto a primeira criava uma comissão com representantes dos dois países para discutir os caminhos tomados pela economia brasileira, o segundo ampliava a rede de combate à expansão comunista no continente americano. A formação da ESG (Escola Superior de Guerra) evidenciava igualmente a interferência estadunidense em importantes questões nacionais, face à grande participação de militares norteamericanos em sua criação.

Segundo governo Vargas

Em meados do ano de 1951, a marchinha “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar” embalou o retorno de Getúlio Vargas à presidência. Entretanto, a popularidade do líder populista não se repetiu em seu segundo governo (1951-1954), período marcado por crises intensas e pela inflamação dos grupos oposicionistas.
Uma das discussões que mais se fez presente na pauta política do governo Vargas foi o grau de abertura de nossa economia. Contrariando os interesses de boa parte do empresariado brasileiro, vinculado ao grande capital estrangeiro, Getúlio adotou medidas econômicas nacionalistas, como a limitação da remessa de lucros ao exterior e da entrada de multinacionais no país. O lançamento da campanha “O Petróleo é Nosso” e a criação da Petrobras representaram o auge dessa plataforma nacionalista. 
Vargas na inauguração da Petrobras (Foto: Reprodução)Vargas na inauguração da Petrobras (Foto: Reprodução)
Em 1954, dois eventos elevaram a níveis alarmantes a crise na qual estava submersa a administração varguista. Em primeiro lugar, a proposta de aumento de 100% do salário mínimo feita pelo então Ministro do Trabalho, João Goulart, que despertou a preocupação dos setores mais conservadores, temerosos em relação à “natureza comunista” da medida.
Além disso, a tragédia ocorrida na Rua Tonelero, marcada pela tentativa de assassinato do jornalista Carlos Lacerda e da morte do major Rubens Vaz, fragilizara ainda mais a popularidade de Vargas. O “Atentado da Tonelero”, de autoria de Gregório Fortunato, chefe da segurança pessoal de Getúlio, teve sua responsabilidade atribuída pela opinião pública ao presidente, que estaria interessado em se livrar das constantes críticas de seu desafeto Carlos Lacerda.
Semanas após o crime e com o aumento das condenações populares ao seu governo, Getúlio Vargas se recolhe em seus aposentos no Palácio do Catete e, em um dos momentos mais dramáticos de nossa história, decide-se pelo suicídio. Em termos políticos, o ato recuperou amplamente a popularidade do ex-presidente, enfraquecendo, ao menos inicialmente, os grupos políticos que lhe faziam oposição.

Questão comentada

(Enem 2005) Zuenir Ventura, em seu livro Minhas memórias dos outros (São Paulo: Planeta do Brasil, 2005), referindo-se ao fim da "Era Vargas" e ao suicídio do presidente em 1954, comenta:
Quase como castigo do destino, dois anos depois eu iria trabalhar no jornal de Carlos Lacerda, o inimigo mortal de Vargas (e nunca esse adjetivo foi tão próprio)”.
Diante daquele contexto histórico, muitos estudiosos acreditam que, com o suicídio, Getúlio Vargas atingiu não apenas a si mesmo, mas o coração de seus aliados e a mente de seus inimigos.
A afirmação que aparece "entre parênteses" no comentário e uma consequência política que atingiu os inimigos de Vargas aparecem, RESPECTIVAMENTE, em:
a) a conspiração envolvendo o jornalista Carlos Lacerda é um dos elementos do desfecho trágico e o recuo da ação de políticos conservadores devido ao impacto da reação popular.  
b) a tentativa de assassinato sofrida pelo jornalista Carlos Lacerda por apoiar os assessores do presidente que discordavam de suas ideias e o avanço dos conservadores foi intensificado pela ação dos militares.  
c) o presidente sentiu-se impotente para atender a seus inimigos, como Carlos Lacerda, que o pressionavam contra a ditadura e os aliados do presidente teriam que aguardar mais uma década para concretizar a democracia progressista.
d) o jornalista Carlos Lacerda foi responsável direto pela morte do presidente e este fato veio impedir definitivamente a ação de grupos conservadores.  
e) o presidente cometeu o suicídio para garantir uma definitiva e dramática vitória contra seus acusadores e oferecendo a própria vida Vargas facilitou as estratégias de regimes autoritários no país.   

Gabarito comentado: a opção correta é a letra A, pois localiza corretamente o “Atentado da Rua Tonelero” no contexto de crise do governo Vargas. Além disso, interpreta o suicídio do presidente como um revés político dos grupos opositores a Getúlio.

sábado, 11 de julho de 2015

O Primeiro Governo Vargas

Era Vargas: Resumo de Getúlio Vargas

No dia 19 de abril de 1882, nascia na cidade de São Borja, Rio Grande do Sul, Getúlio Dornelles Vargas, o homem que viria a se tornar o presidente que passou mais tempo sobre a liderança de nosso país. Durante seus dois mandatos, o primeiro acontecendo entre os anos de 1930 a 1945, e o segundo, que vigorou de 1951 a 1954, ele ficou conhecido pela fase de ditadura imposta entre os anos de 1937  e 1945, fase chamada de Estado Novo, e também pela sua preocupação com a classe trabalhista, pois foram nos seus mandatos que o povo brasileiro recebeu os maiores benefícios no que se dizia respeito aos direitos dos trabalhadores.

O primeiro mandato


O início da Era Vargas se deu quando Getúlio Vargas foi nomeado como presidente e obteve poderes praticamente ilimitados, dando a ele liberdade para mudanças profundas.
Tudo começou durante o Governo Provisório, ocorrido entre 1930 e 1934.  Ao assumir o governo no ano de 1930, Getúlio Vargas liderava a revolução que viria a derrubar Washington Luís do poder e colocá-lo na cadeira da presidência da república, onde ele ficaria durante os próximos quinze anos sem nenhuma interrupção ou quebra de período. Vargas também criou novos ministérios, como o Ministério do Trabalho, da Indústria, do Comércio, da Educação, da Saúde, além de nomear diversos interventores de Estado. Isso fez com que muitos estados perdessem sua autonomia para Getúlio Vargas.
Foi também nesse primeiro mandato que Vargas tomou as primeiras atitudes em relação ao bem estar do povo trabalhador brasileiro, que em sua grande maioria vivia de forma precária, sem possuir nenhum direito nem a garantia de um salário digno. Os direitos trabalhistas foram criados e regulamentados com a criação de sindicatos e diversas ações para o benefício dos trabalhadores – criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), por exemplo, onde ele instituía a partir de então um salário mínimo, que era o menor valor pelo qual as empresas deveriam pagar aos seus funcionários, não mais pagando qualquer quantia insignificante. Aquelas que descumprissem estariam correndo riscos de multas e outras punições. Direitos trabalhistas como a carteira profissional, jornada de trabalho de 48 horas semanais e as férias remuneradas também foram criações suas, benefícios esses aceitos com muita alegria pela população da época.
Tudo isso aconteceu com o objetivo de ganhar o apoio popular e, por este motivo, este modo de governar ficou conhecido com populismo. Vale lembrar que muitas dessas leis e benefícios se mantêm até hoje e outras correm o risco de serem extintas pelo atual governo de Dilma Rousseff (PT).
A derrubada da Constituição Brasileira, em 1931, despertou a indignação da oposição contra o governo getulista, incluindo a oligarquia cafeeira, a classe média paulista.
Com esta ação, os estados perderam autonomia e mesmo sendo percebido como um erro por Getúlio Vargas, não houve tempo para correções, sendo que um interventor oligarca paulista já estava iniciando uma revolta armada para a criação de uma Nova Constituição.
Depois do assassinato de quatro jovens estudantes, em 23 de maio de 1932, várias partes da sociedade paulista se revoltaram contra o evento, Esse foi o motivo pela criação da revolução paulista, como desejado pelo Estado e pelos participantes. O Estado não conseguiu aliados para fazer com que a constituição se tornasse realidade, mas Getúlio Vargas venceu a revolução paulista, mesmo com diversas dificuldades de apoio e aliança.
Depois destes eventos outros de extrema importância ocorrerão durante a Era Vargas:
  • · A criação do governo constitucionalista, entre 1934 e 1937.
  • · A revolta mineira de 1935, ocorrida entre 1935 e 1936.
  • · O plano Cohen e a derrubada do governo constitucionalista.
  • · A implantação do Estado Novo entre 1937 e 1945.
  • · A Segunda Guerra Mundial influenciou o Governo e o país. A  posição do Brasil perante a guerra foi cobrada e uma ameaça de invasão foi feita contra o Brasil, caso ficasse neutro.
O fim da Era Vargas foi marcado por um golpe militar, em 29 de outubro de 1945. Em sua cidade natal, São Borja, várias mudanças ocorreram e Getúlio Vargas chegou a ser presidente novamente eleito pelo povo para fazer  mais mudanças no país.

Entre as várias atitudes destes seus quinze anos de mandato podemos destacar as seguintes:
  • Em 1934 é promulgada a constituição sob seu governo;
  • No ano de 1937 é fechado o Congresso Nacional e instalado o Estado Novo;
  • Com a criação do Estado Novo ele passa a governar de forma Ditatorial, centralizada e controladora;
  • Criação do DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, com a finalidade de controlar e censurar qualquer tipo de manifestação que fosse contrária ao seu governo;
  • Perseguição a políticos da oposição, principalmente os do partido comunista;
  • Envia para o governo nazista a esposa do líder comunista Luis Carlos Prestes, Olga Benário.

Na área de infraestrutura ele criou empresas que viriam a ser de grande importância para o desenvolvimento do país:
  • Em 1938, O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
  • Em 1940, a Companhia Siderúrgica Nacional;
  • Em 1942, a Vale do Rio Doce;
  • Em 1945, a Hidrelétrica do Vale do São Francisco;
No ano de 1945 ele sofreu um golpe militar e saiu de seu governo, porém, aproveitando-se de seu alto grau de popularidade, saiu de maneira pacífica, sem demonstrar nenhum tipo de resistência, o que o ajudaria a conquistar o posto de Senador pelo seu estado – Rio Grande do Sul. No cargo ele não fez nenhuma atuação muito chamativa, apenas se colocou a espera do que viria pela frente, as eleições presidenciais que o colocariam novamente no poder.


terça-feira, 9 de junho de 2015

A Segunda Guerra Mundial


 
Soldados da Segunda Guerra


A Segunda Guerra Mundial, iniciada em setembro de 1939, foi a maior catástrofe provocada pelo homem em toda a sua longa história. Envolveu setenta e duas nações e foi travada em todos os continentes, de forma direta ou indiretamente. O número de mortos superou os cinquenta milhões havendo ainda uns vinte e oito milhões de mutilados.

É difícil de calcular quantos outros milhões saíram do conflito vivos, mas completamente inutilizados devido aos traumatismos psíquicos a que foram submetidos (bombardeios aéreos, torturas, fome e medo permanente). Outra de suas características, talvez a mais brutal, foi a supressão da diferença entre aqueles que combatem no fronte e a população civil na retaguarda. Essa guerra foi total. Nenhum dos envolvidos selecionou seus objetivos militares excluindo os civis.


Atacar a retaguarda do inimigo, suas cidades, suas indústrias, suas mulheres, crianças e velhos passou a fazer parte daquilo que os estrategistas eufemisticamente classificavam como "guerra psicológica" ou "guerra de desgaste". Naturalmente que a evolução da aviação e das armas autopropulsadas permitiu-lhes que a antiga separação entre linha de frente e retaguarda fosse suprimida.


Se a Primeira Guerra Mundial provocou um custo de 208 bilhões de dólares, esta atingiu a impressionante cifra de 1 trilhão e 500 bilhões de dólares, quantia que, se investida no combate da miséria humana a teria suprimido da face da terra. Aproximadamente 110 milhões de homens e mulheres foram mobilizados, dos quais apenas 30% não sofreram morte ou ferimento.


Como em nenhuma outra, o engenho humano foi mobilizado integralmente para criar instrumentos cada vez mais mortíferos, sendo empregados a bomba de fósforo, a napalm e finalmente a bomba política de genocídio em massa, construindo-se campos especiais para tal fim. Com disse o historiador R.A.C. Parker: "O conceito que a humanidade tinha de si mesmo, nunca voltará a ser o mesmo".


Enfim a Liga das Nações, órgão instituído para manter a paz entre as nações, não conseguiu cumprir o seu papel, e esfacelou mediante a corrida militarista preparada pelas nações inconformadas pela hegemonia política e militar exercida pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial. Sem possuir uma única razão, essa guerra foi consequência do exacerbado desenvolvimento industrial das nações europeias. De certa forma, levando em consideração suas especificidades, a Segunda Guerra parecia uma continuidade dos problemas da Primeira Guerra.

Desta forma, a Segunda Guerra é considerada como uma verdadeira guerra mundial, sendo uma consequência de um conjunto de continuidades e questões mal resolvidas pelos tratados de paz estabelecidos após a Primeira Guerra Mundial. Os confrontos foram divididos entre duas grandes coalizões militares: os Aliados, liderados por Estados Unidos, Inglaterra, França e União Soviética; e o Eixo, composto pela Itália, Alemanha e Japão. Em consequência de suas maiores dimensões, os conflitos foram desenvolvidos na Europa, Norte da África e países do Oceano Pacífico. 

As hostilidades começaram na Europa em 1º de setembro de 1939, quando divisões nazistas entraram no território polonês. No dia 3, a França e a Inglaterra  declararam guerra à Alemanha.
Utilizando-se de uma estratégia nova – a blitzkrieg, “guerra-relâmpago” - , os alemães não tiveram dificuldade em vencer os poloneses. Ao fim de duas semanas, a Polônia já estava derrotada. Em seguida, os nazistas caminharam em direção à França, que foi dominada rapidamente. Nesse meio tempo, caíram em poder dos alemães a Dinamarca, a Bélgica, a Holanda e a Noruega.
Grande parte da França ficou sob domínio alemão durante o conflito. Uma parcela da população resistiu aos nazistas, principalmente os membros do partido Comunista Francês, no que ficou conhecido como Resistência francesa.
Do território francês, a aviação alemã começou a  bombardear os ingleses, causando sérios prejuízos materiais e humanos. A Força A[érea Britânica (RAF), no entanto, conseguiu enfrentar os aviões nazistas e impediu que o território inglês fosse invadido e ocupado.
A Itália tentou invadir a Grécia, mas suas tropas foram derrotadas, obrigando o Exército alemão a enviar algumas divisões para ajudar os fascistas.
Em 1941, ocorreu aquele que,  para muitos historiadores, foi o grande erro de Hitler: sem que a Inglaterra estivesse dominada, ele deu ordens para ativar a Operação Barbarrossa, por meio da qual invadiria a União Soviética. Estava rompido o pacto estabelecido com Stálin dois anos antes.
Enquanto os alemães conseguiam importantes vitórias na Europa, na Ásia o Japão dava prosseguimento ao seu projeto expansionista, invadindo a China e outras regiões no Pacífico. As rivalidades imperialistas dos japoneses com os norte-americanos, que já vinham de longa data, explodiram  com intensidade. Em dezembro de 1941, a base naval de Pearl Harbour, no Havaí, foi atacada pelos japoneses, determinando a entrada dos Estados Unidos no conflito.
Com a entrada da União Soviética e dos Estados Unidos e com a consolidação do Eixo Roma-Berlim-Tóquio, as duas guerras localizadas fundiram-se em um só conflito, de caráter realmente mundial.
Em 1942, os países do Eixo conseguiram vitórias expressivas. Lembre-se que eles já vinham se organizando há muito para este conflito, enquanto Estados Unidos e a União Soviética ainda teriam que dispor de tempo para se preparar adequadamente. Os japoneses continuaram sua expansão vitoriosa, dominando a Indochina, a Malásia e atacando as Filipinas e várias  outras ilhas do Pacífico. Na União Soviética, a invasão alemã causou um prejuízo violento. Tropas nazistas chegaram próximo a Moscou.
Em 1943, a sorte do Eixo começou a mudar. Os Estados Unidos conseguiram as primeiras vitórias contra o Japão, enquanto a União Soviética conseguia deter o avanço alemão em Stalingrado. A partir daí, o Exército soviético passou a esmagar os nazistas, empurrando-os de volta a Alemanha.
Em 1944, apesar de toda a violência dos combates, já estava claro que o Eixo chegava ao seu limite máximo de resistência e que teria cada vez mais dificuldades para continuar no conflito. Ainda mais que, em junho desse mesmo ano, os norte-americanos e os ingleses desembarcaram na França, e a Alemanha teve que dividir suas tropas em duas frentes. Essa invasão foi considerada o Dia D, isto é, o dia decisivo da guerra. De fato, trata-se mais de um mito do que uma verdade histórica, pois a Alemanha sofreu suas grandes derrotas no lado oriental, ou seja, o maior responsável pela vitória sobre o nazismo foi, o Exército soviético.


O Brasil na Segunda Guerra


Neste ano também, o governo brasileiro  enviou um corpo de soldados para lutar na Itália contra os fascistas. Era a Força Expedicionária Brasileira (FEB) que, apesar de pequena, deu sua colaboração para a vitória aliada. Em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália e a decisão de enviar as tropas em 1944, além de atender a um pedido dos estados Unidos, deveu-se ao torpedeamento de alguns navios brasileiros supostamente por submarinos alemães.
Em 1945, finalmente, a guerra terminou, com a derrota do Eixo. Já no ano anterior a Itália se retirara do conflito. Mussolini fora preso, mas os alemães conseguiram libertá-lo e ele tentou reorganizar o governo. Em 1945, foi novamente preso e dessa vez fuzilado. Em abril, a ocupação de Berlim levou Hitler e alguns de seus auxiliares a se suicidarem. A Alemanha, em maio de 1945, estava invadida e ocupada pelos soviéticos e pelos norte-americanos. Terminava definitivamente o conflito na Europa.
Restava o Japão, cujo governo continuava a estimular uma resistência que causava significativas baixas entre as tropas norte-americanas. A resistência japonesa, a não aceitação de uma rendição incondicional e o temor, por parte dos norte-americanos, de uma possível participação soviética na derrota final do Japão  levaram o governo Truman a apressar o desfecho da guerra. Nesse contexto, explica-se o lançamento de duas bombas atômicas nos dias 6 e 9 de agosto, respectivamente nas cidades de Hiroshima e Nagasaki. Seguiu-se a rendição incondicional do Japão, e o armistício foi assinado em 1945. A guerra terminara, deixando um saldo terrível de cerca de 50 milhões de mortos, países completamente devastados e cidades “varridas” do mapa.


Explosão da Bomba Atômica"Little Boy"  em 6 de Agosto de 1945, jogada sobre Hiroshima. A primeira imagem registrada da explosão foi o “cogumelo atômico”. Milhares de civis, crianças, jovens e idosos morreram instantaneamente.
A Europa, que já havia ficado enfraquecida com a Primeira Guerra, viu sua situação se agravar, pois quem passava a deter a hegemonia no mundo eram os Estados Unidos e a União Soviética.
Nos meses finais do conflito, já prevendo a vitória, Roosevelt dos estados unidos, Churchill da Inglaterra e Stálin da União Soviética começaram a discutir os rumos da política e da economia mundiais.
As principais reuniões celebradas entre os três líderes durante o conflito foram:
A Conferência de Teerã, em 1943. Os três se comprometeram a continuar a luta até a derrota definitiva do Eixo; decidiu-se que haveria a abertura de uma nova frente, a ocidente, para obrigar os alemães a dividirem suas forças.

A Conferência de Yalta, em 1945. Novamente os três líderes se reuniram para traçar as áreas de influencia de cada um. Por sugestão de Churchill, acatada por Stálin, a Europa Oriental seria considerada área de influencia da união Soviética.


A Conferência de Potsdam, em 1945. Decidiu-se pela ocupação da Alemanha e sua divisão em quatro áreas, situação que deveria se manter até a completa desnazificação do país. Nessa conferência, o presidente dos estados Unidos já era Truman, em virtude do falecimento de Roosevelt.



O fim da Segunda Guerra Mundial

Quando a guerra terminou, o mundo estava dividido: de um lado os países capitalistas e, de outro, os socialistas. Era a chamada Guerra Fria. Até  os últimos dias da década de 1980, ainda vivíamos sob a ameaça de um outro conflito entre as potências; e desta vez com armas atômicas, o que significaria a destruição do mundo. Hoje, isso parece ser um filme de ficção científica. A derrocada do império soviético colocou um fim na polarização militar mundial.

Conteúdo originalmente postado em:  http://www.sohistoria.com.br/ef2/segundaguerra/p1.php

segunda-feira, 23 de março de 2015

Revolução Industrial

Por que a Revolução Industrial foi caracterizada como revolução? Vemos a palavra revolução empregada sobretudo em transformações políticas de grande impacto na sociedade, como a Revolução Francesa (1789) ou a Revolução Russa (1917). No caso da Revolução Industrial, o aspecto revolucionário desse fenômeno esteve no âmbito tecnológico, por isso o advento da indústria e da produção mecanizada, ocorrido na Inglaterra do século XVIII principalmente a partir da invenção da máquina a vapor por James Watt, em 1760, caracterizou-se como revolução.

A principal característica da Revolução Industrial foi a criação do sistema fabril mecanizado, isto é, as fábricas passaram da simples produção manufaturada para a complexa substituição do trabalho manual por máquinas. Essa substituição implicou na aceleração da produção de mercadorias, que passaram a ser produzidas em larga escala. Essa produção em larga escala, por sua vez, exigiu uma demanda cada vez mais alta por matéria-prima, mão de obra especializada para as fábricas e mercado consumidor. Tal exigência implicou, por sua vez, também na aceleração dos meios de transporte de pessoas e mercadorias. Era necessário o encurtamento do tempo que se percorria de uma região à outra para escoar os produtos.

Nesse sentido, a Revolução Industrial estimulou o desenvolvimento das cidades — que tiveram que se adaptar ao grande contingente de pessoas que migrava do meio rural em busca de emprego nas fábricas —, bem como a criação de transportes, como a locomotiva a vapor (ou “trem de ferro”), que exigia uma malha ferroviária, isto é, linhas de trem feitas de ferro para estabelecer a ligação entre as regiões.

A Revolução Industrial exigiu uma transformação dos meios de transporte para a locomoção de pessoas e escoamento de mercadorias
A Revolução Industrial exigiu uma transformação dos meios de transporte para a locomoção de pessoas e escoamento de mercadorias

Mas por que, necessariamente, a Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra? As condições para o desenvolvimento da indústria estavam nesse país. A começar pela sofisticada manufatura têxtil que os ingleses detinham desde a época da colonização da América – elemento que seria o modelo para a criação da máquina de fiar tecido movida a vapor. Outros fatores importantes foram as transformações políticas ocorridas no século XVII a partir da Revolução Gloriosa (1688-1689), como a política dos cercamentos aplicada à agricultura, que forçou a migração da população camponesa para as cidades, e a institucionalização do direito de propriedade privada, que seria uma das bases principais para o desenvolvimento pleno do capitalismo industrial inglês. Além disso, as reservas minerais de ferro e carvão em território inglês foram fundamentais para a construção do maquinário fabril.

A radicalidade das transformações tecnológicas trazidas com a Revolução Industrial pôde ser observada também na mudança de mentalidade da época, como destacou o historiador Francisco Iglésias:

"Do século XV ao XVIII verificou-se verdadeira mudança de mentalidade. A mecânica e a técnica, de menosprezadas, passaram a supervalorizadas. Não é generalizada essa aceitação, pois os preconceitos têm raízes fundas, dificilmente removíveis. Ainda no século XVIII e mesmo nos seguintes, até o atual, encontra-se certa atitude de suspeita ante o manual ou mecânico, enquanto se realça o ócio, o lazer, a condição de nobreza, que não trabalha ou só trabalha com a inteligência e exerce o comando. Daí a desconsideração com tarefas como as agrícolas - revolver as terras com as mãos - as artesanais ou manufatureira, ou mesmo as comerciais (...). Curioso lembrar como os médicos, forrados de humanismo, não tinham respeito pelos cirurgiões, pois exerciam labor mecânico. Até 1743 - repare-se a data - eram vistos como espécie de barbeiros." (Iglésias, Francisco. A Revolução Industrial. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 40-41).

Como consequências da Revolução Industrial, podemos apontar o desenvolvimento tecnológico acelerado, que caracterizou uma sucessão de etapas evolutivas, como a Segunda Revolução Industrial (desenvolvida no século XIX, seu principal aspecto foi a criação dos motores de combustão interna movidos a combustíveis derivados do petróleo) e a Terceira Revolução Industrial (desenvolvida no século XX e ainda em expansão, seu aspecto principal são os ramos da microeletrônica, engenharia genética, nanotecnologia, entre outros). Além disso, a formação da sociedade de massas constituiu também uma das consequências da Revolução Industrial, haja vista que o crescimento das cidades e a grande quantidade de trabalhadores (que formaram a classe operária) que passaram a habitar os centros urbanos geraram as massas, isto é, o grande fluxo de pessoas em uma só região.