Por que a Revolução Industrial
foi caracterizada como revolução? Vemos a palavra revolução empregada
sobretudo em transformações políticas de grande impacto na sociedade,
como a Revolução Francesa (1789) ou a Revolução Russa (1917).
No caso da Revolução Industrial, o aspecto revolucionário desse
fenômeno esteve no âmbito tecnológico, por isso o advento da indústria e
da produção mecanizada, ocorrido na Inglaterra do século XVIII
principalmente a partir da invenção da máquina a vapor por James Watt,
em 1760, caracterizou-se como revolução.
A principal característica da Revolução Industrial foi a criação do sistema fabril mecanizado,
isto é, as fábricas passaram da simples produção manufaturada para a
complexa substituição do trabalho manual por máquinas. Essa substituição
implicou na aceleração da produção de mercadorias, que passaram a ser
produzidas em larga escala. Essa produção em larga escala, por sua vez,
exigiu uma demanda cada vez mais alta por matéria-prima, mão de obra
especializada para as fábricas e mercado consumidor. Tal exigência
implicou, por sua vez, também na aceleração dos meios de transporte de
pessoas e mercadorias. Era necessário o encurtamento do tempo que se
percorria de uma região à outra para escoar os produtos.
Nesse sentido, a Revolução Industrial
estimulou o desenvolvimento das cidades — que tiveram que se adaptar ao
grande contingente de pessoas que migrava do meio rural em busca de
emprego nas fábricas —, bem como a criação de transportes, como a
locomotiva a vapor (ou “trem de ferro”), que exigia uma malha
ferroviária, isto é, linhas de trem feitas de ferro para estabelecer a
ligação entre as regiões.
A Revolução Industrial exigiu uma transformação dos meios de transporte para a locomoção de pessoas e escoamento de mercadorias
Mas por que, necessariamente, a
Revolução Industrial ocorreu na Inglaterra? As condições para o
desenvolvimento da indústria estavam nesse país. A começar pela
sofisticada manufatura têxtil que os ingleses detinham desde a época da
colonização da América – elemento que seria o modelo para a criação da
máquina de fiar tecido movida a vapor. Outros fatores importantes foram
as transformações políticas ocorridas no século XVII a partir da Revolução Gloriosa (1688-1689), como
a política dos cercamentos aplicada à agricultura, que forçou a
migração da população camponesa para as cidades, e a institucionalização
do direito de propriedade privada, que seria uma das bases principais
para o desenvolvimento pleno do capitalismo industrial inglês. Além
disso, as reservas minerais de ferro e carvão em território inglês foram
fundamentais para a construção do maquinário fabril.
A radicalidade das transformações
tecnológicas trazidas com a Revolução Industrial pôde ser observada
também na mudança de mentalidade da época, como destacou o historiador
Francisco Iglésias:
"Do século XV ao XVIII verificou-se
verdadeira mudança de mentalidade. A mecânica e a técnica, de
menosprezadas, passaram a supervalorizadas. Não é generalizada essa
aceitação, pois os preconceitos têm raízes fundas, dificilmente
removíveis. Ainda no século XVIII e mesmo nos seguintes, até o atual,
encontra-se certa atitude de suspeita ante o manual ou mecânico,
enquanto se realça o ócio, o lazer, a condição de nobreza, que não
trabalha ou só trabalha com a inteligência e exerce o comando. Daí a
desconsideração com tarefas como as agrícolas - revolver as terras com
as mãos - as artesanais ou manufatureira, ou mesmo as comerciais (...).
Curioso lembrar como os médicos, forrados de humanismo, não tinham
respeito pelos cirurgiões, pois exerciam labor mecânico. Até 1743 -
repare-se a data - eram vistos como espécie de barbeiros." (Iglésias, Francisco. A Revolução Industrial. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 40-41).
Como consequências da Revolução
Industrial, podemos apontar o desenvolvimento tecnológico acelerado, que
caracterizou uma sucessão de etapas evolutivas, como a Segunda
Revolução Industrial (desenvolvida no século XIX, seu principal aspecto
foi a criação dos motores de combustão interna movidos a combustíveis
derivados do petróleo) e a Terceira Revolução Industrial (desenvolvida
no século XX e ainda em expansão, seu aspecto principal são os ramos da
microeletrônica, engenharia genética, nanotecnologia, entre outros).
Além disso, a formação da sociedade de massas constituiu também uma das
consequências da Revolução Industrial, haja vista que o crescimento das
cidades e a grande quantidade de trabalhadores (que formaram a classe
operária) que passaram a habitar os centros urbanos geraram as massas,
isto é, o grande fluxo de pessoas em uma só região.