A Quarta República foi um período regido pela nova Constituição promulgada em 1946. A nova Constituição do Brasil foi elaborada após a formação de uma Constituinte nas eleições de 1945. Com a posse do presidente eleito, Eurico Gaspar Dutra, a Constituinte reuniu-se durante meses até a promulgação da nova Constituição em 18 de setembro de 1946.
A Constituição de 1946
exprimia os valores ideológicos dos políticos eleitos em 1945 e era, portanto,
uma Constituição liberal. Em relação às questões democráticas, a Constituição
trouxe melhorias consideráveis, pois retomou valores que haviam sido suprimidos
no Estado Novo e aumentou significativamente o número de eleitores no Brasil,
já que definiu que homens e mulheres maiores de 18 anos tinham direito ao voto.
A Constituição, no entanto,
tinha seus pontos negativos. Um deles era a exclusão dos analfabetos do
direito de votar, o qual só foi obtido em 1988. Além disso, a Constituição não
concedeu aos trabalhadores rurais os direitos trabalhistas obtidos nos anos
anteriores pelos trabalhadores urbanos. Além disso, uma cláusula referente à
reforma agrária em particular foi alvo de intensos debates anos depois.
PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DA
QUARTA REPÚBLICA
Eurico Gaspar Dutra
(1946-1951)
Eurico Gaspar Dutra foi eleito
presidente pela chapa PSD/PTB, derrotando Eduardo Gomes, da UDN,
e Iedo Fiúza, do PCB. Dutra elegeu-se escorando no apoio tímido que
lhe foi dado por Getúlio Vargas e também em virtude de deslizes cometidos por
seu principal adversário, Eduardo Gomes. Dutra assumiu a presidência em 31 de
janeiro de 1946, anunciando que seria “o presidente de todos os brasileiros”1.
Em relação à economia,
destacaram-se em seu governo dois momentos distintos: no primeiro, foi aplicada
uma política econômica liberal que, depois de queimar as reservas
cambiais do país, foi substituída por uma política intervencionista que
resultou em grande crescimento econômico. Em questões de política externa, o
país aliou-se incondicionalmente aos Estados Unidos.
Em decorrência dessa aliança,
o governo rompeu relações diplomáticas com a União Soviética e passou a
perseguir fortemente sindicatos, organizações de trabalhadores e partidos de
esquerda. Com isso, o PCB foi colocado na ilegalidade, e seus políticos foram
cassados.
Getúlio Vargas (1951-1954)
Getúlio Vargas retornou à
presidência do Brasil após vencer as eleições de 1950, quando derrotou o
udenista Eduardo Gomes e o candidato do PSD Cristiano Machado.
O segundo governo de Vargas ficou marcado por uma forte crise política que
abalou a sustentação de seu governo e por inúmeras polêmicas em torno da
política econômica adotada.
Economicamente, Getúlio Vargas
alinhava-se a uma postura mais nacionalista, sobretudo na exploração dos
recursos nacionais. Nessa questão, destaca-se a polêmica em torno da criação
da Petrobras, em 1953, após uma extensa campanha popular que tinha
como lema “o petróleo é nosso”. A criação dessa estatal, que monopolizava a
exploração do petróleo no Brasil, desagradou fortemente certos grupos da
política brasileira alinhados com interesses estrangeiros.
A postura de intervenção do
Estado na economia era outra questão que incomodava bastante. Essas polêmicas
fortaleceram o antigetulismo no Brasil, e Vargas teve de lidar com denúncias
frequentes de corrupção e de tentativas de implantar uma ditadura sindicalista
no país.
Vargas também teve de lidar
com a insatisfação popular por conta da alta da inflação, que
destruía o poder de compra do trabalhador. A resposta de Vargas foi a nomeação
de João Goulart, político gaúcho com alto poder de negociação com os
sindicatos, para o Ministério do Trabalho e a aprovação da
proposta de aumentar em 100% o salário mínimo.
Isso gerou profunda
insatisfação nos militares, que criticavam incisivamente Vargas, e nos
udenistas. Um dos maiores nomes do antigetulismo foi Carlos Lacerda,
jornalista e dono do Tribuna da Imprensa. Esse jornalista foi, inclusive,
o pivô da crise final do governo Vargas.
Em 5 de agosto de 1954, Carlos
Lacerda foi atacado na porta de sua casa, na Rua Tonelero, em Copacabana, Rio
de Janeiro. As investigações descobriram que Gregório Fortunato, chefe
de segurança do palácio presidencial, havia sido o mandante do crime. Vargas
passou a ser bombardeados por pedidos de renúncia até que, em 24 de agosto de
1954, cometeu suicídio no Palácio do Catete.
Juscelino Kubitschek
(1956-1961)
A posse de Juscelino à
presidência do Brasil só foi possível graças ao esforço de Henrique Teixeira
Lott, ministro da Guerra que organizou o Golpe Preventivo de 1955, o qual
acabou com qualquer possibilidade de golpe contra o político mineiro. Essa ação
foi tomada pelo fato de terem acontecido, entre 1954 e 1955, movimentações
golpistas para impedir a realização da eleição de 1955 e para impedir a posse
de JK.
Juscelino Kubitschek,
vinculado à chapa PSD/PTB, foi eleito presidente após derrotar seus
adversários: Juarez Távora, da UDN, e Ademar de Barros,
do PSP. Seu governo ficou marcado pelo desenvolvimentismo, ou seja, por
posturas econômicas que buscavam o crescimento da economia e da indústria no
país. Para alcançar esse desenvolvimento, foi criado o Plano de Metas,
que estipulava investimentos em áreas cruciais do país, como energia e
transporte.
O resultado dos cinco anos de
governo de JK na economia foi um crescimento anual médio do PIB de 7% e
um crescimento industrial de 80%. Outro destaque desse governo foi a
construção da nova capital, Brasília. A obra aconteceu em tempo recorde e
envolveu um montante gigantesco de dinheiro.
Apesar dos resultados
positivos, esse governo também ficou marcado pelo crescimento da desigualdade
social no país e por problemas graves, como o baixo investimento na educação e
na alimentação, que permaneceram como gargalos da nossa sociedade.
Jânio Quadros (1961)
Jânio Quadros foi o primeiro e
único político que a UDN conseguiu eleger no país durante a Quarta República.
Foi escolhido como candidato do partido por indicação de Carlos Lacerda, líder
do conservadorismo no país. Na eleição presidencial de 1960, Jânio Quadros derrotou Henrique Teixeira Lott,
da chapa PSD/PTB, e Ademar de Barros, do PSP.
O governo de Jânio foi curto,
com duração de quase sete meses. Nesse período, o presidente acumulou
polêmicas com a população e com seu partido, a UDN. Na economia tomou
medidas que aumentaram o preço dos combustíveis e do pão. Outras medidas
polêmicas foram a proibição do uso de biquíni e a condecoração de Che
Guevara, líder da luta revolucionária na América.
Esse último fato enfureceu seu
partido, que era ideologicamente conservador, isolando politicamente o
presidente. A saída encontrada por Jânio foi renunciar à presidência no
dia 25 de agosto de 1961. Sua renúncia é interpreta pelos historiadores como
uma tentativa fracassada de autogolpe. Dessa forma, o país foi jogado em uma
crise política sobre a sucessão presidencial.
João Goulart (1961-1964)
O governo de Jango (apelido
de João Goulart) foi um dos mais atribulados da história do país. Sua posse
aconteceu em meio a uma campanha política conhecida como “campanha da
legalidade”, a qual defendia que Jango, vice de Jânio, fosse empossado
presidente do Brasil. A luta entre legalistas e golpistas quase arrastou o país
para uma guerra civil.
Jango assumiu a presidência em
7 de setembro de 1961 em um regime parlamentarista. Apesar de os poderes
políticos presidenciais estarem minados pelo parlamentarismo, a partir de
janeiro de 1963, o presidencialismo teve seus poderes recuperados por meio de
um plebiscito votado pela população.
Assim, Jango teve poderes para
tentar implantar a Reforma de Base, um conjunto de reformas estruturais em
áreas vitais do país, como sistemas tributário e eleitoral, ocupação urbana,
etc. A reforma agrária e a forma como ela seria conduzida no país representaram
o grande debate das Reformas de Base, o qual desgastou e isolou politicamente
João Goulart. Em virtude disso, seu partido, o PTB, perdeu o apoio do PSD, que
se bandeou para o lado dos udenistas.
Enquanto as tentativas de
reforma eram debatidas, organizava-se secretamente no país um golpe contra
o presidente. Essa conspiração contava com a participação de militares, civis
e, principalmente, do grande empresariado.
Essa conspiração golpista
recebeu apoio financeiro dos EUA, que inclusive injetou dinheiro em
candidaturas conservadoras na eleição de 1962. Formaram-se, então, dois grupos
que passaram a organizar o golpe e a difundir um discurso para desestruturar a
base do governo com a população: o Ibad (Instituto Brasileiro de Ação
Democrática) e o Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais).
EM 1964, DOIS MOMENTOS-CHAVE
ACONTECERAM:
Em 13 de março de 1964, o
presidente realizou o discurso da Central do Brasil, no qual
reassumiu seu compromisso em realizar, a todo custo, as Reformas de Base.
Em 19 de março de 1964, em São
Paulo, aconteceu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, uma
resposta ao discurso de Jango. Esse evento evidenciou a existência de uma
parcela numerosa do país que se alinhava às pautas conservadoras e lutava
contra o governo.
A continuidade desse processo levou, a partir de 31 de março de 1964, à conspiração para a ação do golpe. Entre 31 de março e 2 de abril, tropas militares realizaram as movimentações necessárias para ocupar pontos-chave do país. No dia 2 de abril, o então presidente do Senado, Auro de Moura, declarou vaga a presidência do Brasil, consolidando, assim, o golpe contra a democracia e contra João Goulart. Em 9 de abril foi decretado o AI -1. No dia 15, Humberto Castelo Branco assumiu como primeiro “presidente” da Ditadura Militar.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/republica-populista-1945-1964.htm
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