Embora tenha sido conduzida pelo movimento republicano, com representantes como Quintino Bocaiuva, Benjamin Constant, José do Patrocínio, entre outros, a Proclamação da República representou, sobretudo, o enfraquecimento da monarquia. A crise do Império foi marcada por três questões que abalaram a relação do Império com suas principais fontes de sustentação política: a questão religiosa, a questão abolicionista e a questão militar.
CRISE DO IMPÉRIO
A crise do Império diz respeito a uma série de
transformações que ocorreram no Brasil desde o século XVII e que levaram ao
enfraquecimento da monarquia,
sobretudo durante o Segundo Reinado, ocasionando o fim do Império no Brasil e início da República, em
1889.
Ela pode ser explicada a partir de uma junção de fatores externos e internos, que
se desenvolveram ao longo do século XIX. Externamente, três eventos foram
importantes para o enfraquecimento das monarquias absolutistas na Europa:
a Revolução Gloriosa (1688), a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa(1789). Nesse contexto, o modelo republicano surgiu como
alternativa, sobretudo com a crescente influência do positivismo (corrente
teórica inspirada no ideal de progresso contínuo da humanidade) sobre as
classes médias e intelectuais.
Internamente, algumas “questões” são apontadas como
decisivas para o enfraquecimento da monarquia brasileira
e, consequentemente, a instauração da República em 1889, sendo elas a questão
religiosa, a questão abolicionista e a questão militar.
QUESTÃO RELIGIOSA
Em 1864, o papa Pio IX determinou a excomunhão de todos os
católicos que tivessem envolvimento com a maçonaria, instituição muito
influenciada pelo positivismo e que tinha muitos representantes no
Brasil. O próprio D. Pedro II,
que embora não fosse efetivamente maçom, possuía uma forte relação com os seus
membros.
Como resposta à determinação do papa, o imperador decretou
que não reconhecia os efeitos da ordem papal. Contudo, em 1872, os bispos Dom
Vital Maria, de Olinda, e Dom Macedo Costa, de Belém, decidiram não
cumprir a ordem do imperador, suspendendo irmandades religiosas que mantinham
contato com maçons.
Os bispos acabaram sendo punidos com prisão e trabalhos
forçados. Em 1875, foram anistiados, mas esse episódio foi visto pela Igreja
Católica no Brasil como um ato autoritário e, a partir de então, a
instituição passou a se afastar do imperador.
QUESTÃO ESCRAVOCRATA
A escravidão no Brasil era sustentada, sobretudo,
pela dependência econômica que as elites cafeeiras tinham desse tipo de mão de
obra. Contudo, durante o Segundo Reinado, pressões internas e
externas, principalmente da Inglaterra, exigiam o seu fim em favor da
implementação da mão de obra assalariada.
A abolição da escravatura foi resultado de um processo
gradual e longo que, até chegar à abolição propriamente dita, realizou algumas
concessões por meio das leis abolicionistas. No entanto, essas transformações geraram descontentamentos
e críticas ao Império por parte da elite que dependia da mão de obra escrava.
QUESTÃO MILITAR
Um marco importante para entendermos a questão militar diz
respeito ao conflito armado no qual o Brasil envolveu-se: a Guerra do Paraguai (1864-1870). Embora o Brasil tenha vencido, a guerra trouxe
uma grande baixa entre os que combateram ao lado do Império brasileiro e também
um grande endividamento econômico com a Inglaterra, fazendo com que D. Pedro
II, imperador no período, sofresse um forte desgaste político. Ao mesmo tempo,
os militares saíram como heróis pelos esforços empreendidos nos conflitos, o
que os projetou politicamente em um ambiente já instável.
A crise entre a monarquia e os militares agravou-se
em 1883, quando um projeto de lei de autoria do Visconde de Paranaguá passou a
obrigar a contribuição dos militares ao Montepio (sistema de previdência dos
militares), o que provocou protestos do tenente-coronel Antônio de Sena
Madureira, amigo de D. Pedro II, que, em seguida, sofreu uma punição.
Esse evento desencadeou uma série de embates entre a coroa
e os militares por meio de veículos de imprensa, ao mesmo tempo em que o
movimento republicano se fortalecia, destacando-se personalidades como Rui
Barbosa, Quintino Bocaiuva, Benjamin Constant, entre outros.
PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA
Em 1889, o Visconde de Ouro Preto foi nomeado como Chefe do
Gabinete Ministerial, gerando mais uma série de impasses entre os críticos à
monarquia e os militares. Ao tentar aumentar os poderes da Guarda Nacional, que
foi fundada em 1831 e possuía uma proximidade maior com o Império, a atitude foi
vista pelos militares como uma tentativa de dissolver o Exército.
Diante dessa situação de descontentamento, os republicanos viram a possibilidade de um golpe com o apoio dos militares. Para isso, tentaram convencer o marechal Deodoro da Fonseca, militar que possuía um grande prestígio entre as tropas, para que liderasse o movimento. Contudo, o marechal, além de se dizer monarquista, dizia-se também amigo pessoal de D. Pedro II.
No dia 14 de novembro de 1889, os republicanos teriam feito
circular uma notícia de que o Visconde de Ouro Preto havia decretado a prisão
de Deodoro da Fonseca e de uma das principais lideranças dos republicanos, o
tenente-coronel Benjamin Constant. Esse acontecimento foi decisivo para que o
marechal desse início ao movimento que, no dia seguinte, acabou depondo o
imperador, decretando o fim do Império e o início da República.
CONSEQUÊNCIAS
A Proclamação da República produziu uma série de
transformações, sobretudo do ponto de vista institucional. Uma nova
Constituição foi promulgada em 1891, inspirada no modelo republicano
federativo e liberal dos Estados Unidos da América. A partir de então, as
antigas províncias, agora estados, passaram a ter mais autonomia, como na
aquisição de empréstimos no exterior e formação de forças militares próprias.
Foi estabelecido também um sistema presidencialista,
no qual o chefe do Executivo também seria escolhido por um sistema de voto
direto e universal – ou seja, o voto censitário, no qual o cidadão
precisava comprovar determinada situação financeira para poder votar, foi
abolido. Contudo, os analfabetos, mendigos, os praças militares e,
implicitamente, as mulheres ficaram impedidos de votar.
Foi oficializada a separação entre o Estado e a Igreja,
sendo considerado livre o culto de todas as expressões religiosas, não
existindo mais uma “religião oficial” no Brasil, como havia na Constituição
Imperial de 1824.
Após a Proclamação da República, instalou-se no Brasil
um Governo Provisório, que durou até 1894. Primeiro, esteve no poder
Deodoro da Fonseca e, depois, o marechal Floriano Peixoto. Uma república
constitucional era fundamental para os republicanos, pois havia o temor de
que os militares se instalassem permanentemente no poder. Em 1894 foi eleito,
por meio do voto, o primeiro presidente civil do Brasil: Prudente de Morais.
Dois partidos político destacaram-se nesse período: o Partido
Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM).
Esse período ficou conhecido como República do Café com Leite, em razão da forte influência das elites agrárias
paulistas e mineiras na alternância do poder. Esses dois partidos alternaram-se
no poder até a Revolução de 1930, que iniciou a Era Vargas.
Apesar da importância do ato da Proclamação da
República, vale ressaltar que uma série de transformações já vinha ocorrendo no
Brasil desde o começo do Império, o que, ao final, acabou resultando no enfraquecimento
da monarquia e abrindo espaço para os republicanos.
Após a Proclamação da República, os republicanos
distinguiram-se entre “republicanos históricos”, que desde o início do
movimento estiveram à frente de seus ideais, e “republicanos de última hora”,
que só se tornaram republicanos após a queda da monarquia. Deodoro da
Fonseca, por exemplo, recebeu diversas críticas enquanto esteve à frente do
Governo Provisório, por se tratar de um “republicano de última hora”.
Encontrado em: https://escolakids.uol.com.br/historia/a-proclamacao-da-republica-no-brasil.htm