sexta-feira, 30 de abril de 2021

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A Primeira Guerra Mundial (1914 - 1918) envolveu as principais potências europeias em um conflito que se originou em 28 de julho de 1914, alastrando-se por todo o continente ao longo dos quatro anos seguintes, até 11 de novembro de 1918.

Entenda quais eram as principais características políticas e econômicas das sociedades europeias naquela época, e como cada uma delas contribuiu para a emergência dessa disputa.

Origens do conflito

Desde a segunda metade do século XIX, diversas nações desenvolveram fortes políticas imperialistas, sendo esse um dos principais fatores políticos que instigaram a Primeira Guerra Mundial. Países europeus, como a França, a Alemanha, a Inglaterra e a Itália, além dos Estados Unidos e do Japão, por exemplo, buscavam expandir ao máximo suas influências territoriais. Seus projetos eram pautados sobretudo na hegemonia sobre os países colonizados nas regiões asiática e africana e justificavam suas ações com base no etnocentrismo, em que supostamente “os países civilizados levariam o progresso aos povos mais primitivos”.

No entanto, esta divisão neocolonial, em conjunto com novos conflitos emergentes e voltados às questões de disputas territoriais, como a Partilha da África, culminou em sentimentos crescentes de hostilidade entre os países. Enquanto algumas nações, como a França e a Inglaterra, exploravam colônias consideradas extremamente rentáveis, com grande oferta de matérias-primas e mercado consumidor, a Alemanha e a Itália, por exemplo, sentiam-se extremamente insatisfeitas com as divisões de territórios.

Nesse contexto, ainda existia uma forte pressão econômica e uma acirrada disputa pela conquista de mercados consumidores. O ambiente, voltado à concorrência comercial, contribuiu para a emergência de diversos conflitos de interesse.

Corrida armamentista

Diante do largo desenvolvimento industrial e da crescente concorrência econômica, algumas nações europeias também começaram a direcionar seus investimentos para um segmento muito específico: a indústria bélica. A crescente tensão na Europa culminou em uma corrida armamentista, na qual todos os países foram tomados por um sentimento de apreensão e incertezas, e então armaram-se diante da possibilidade de se proteger ou atacar.

Muito associados aos ideais imperialistas, os pensamentos nacionalistas também ganharam força nesse contexto, contribuindo ainda mais para o clima receoso entre os países do continente europeu. Ao evocar o forte sentimento de pertencimento, o pangermanismo na Alemanha, por exemplo, despertou o ímpeto de unificação dos povos de origem germânica, com apoio do Império Austro-Húngaro. Já o pan-eslavismo originou a primeira tentativa de unificação entre o Império Russo e os demais países eslavos.

Política de alianças

Pressionados, muitos Estados saíram em busca de reforço militar e apoio político, unindo-se às nações cujos planos comerciais eram similares aos seus e, também, que tinham os mesmos inimigos. A primeira grande aliança é formada em 1880, a partir de acordos firmados entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália, recebendo o nome de Tríplice Aliança.

Na década seguinte, a França - cuja trajetória histórica revela inúmeras questões mal resolvidas com a Alemanha - une-se ao Império Russo, na busca pela articulação de uma aliança política e econômica. A Inglaterra, preocupada com os avanços bélicos propostos pelos germânicos, une-se à dupla originando em 1907, a chamada Tríplice Entente.

A Guerra dos Bálcãs e seus reflexos

A Alemanha, movida por seu sentimento nacionalista, buscava integrar-se ao território austro-húngaro, cujos interesses políticos estavam, principalmente, voltados à região dos Bálcãs, povoada por muçulmanos e eslavos.

O povo eslavo, em especial, acreditava na possibilidade da construção de uma grande nação naquele território, originando a Grande Sérvia, um projeto também defendido pelos russos. No entanto, em 1908, o Império Austro-Húngaro anexou ao seu território a Bósnia e a Herzegovina, duas nações predominantemente eslavas. Esse movimento provocou uma crise política, cujos efeitos tentou-se controlar com o Tratado de Berlim, em 1909, mas resultaram na Guerra dos Bálcãs, ocorrida entre 1912 e 1913. A região, com uma dinâmica complexa e delicada, passa a se configurar então como um “barril de pólvora”.

O verdadeiro estopim do conflito mundial, cultivado em meio às crescentes tensões políticas e econômicas na Europa, foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austro-húngaro, império cuja extensão abrange as atuais Áustria e Hungria, além de partes da Romênia, da República Checa e da Eslováquia.

Francisco e Sofia de Hohenberg, sua esposa, foram mortos a tiros enquanto visitavam a cidade de Sarajevo, na então província da Bósnia-Herzegovina, em 28 de junho de 1914. As investigações comprovaram que o atentado foi, na verdade, orquestrado por Gravrilo Princip, um ativista sérvio integrante do grupo nacionalista sérvio Mão Negra, que acreditava na realização do pan-eslavismo e rejeitava a influência do império austro-húngaro.

A situação, que já estava delicada, se intensificou. O Império Austro-Húngaro, com apoio alemão, cobrou uma solução das forças Sérvias diante do assassinato do arquiduque. A Sérvia, porém, com auxílio dos russos, não cedeu à pressão. Como resultado, a declaração de guerra feita pelos austro-húngaros à Sérvia foi oficializada em 28 de julho de 1914.

Desenvolvimento da guerra

Logo os franceses declararam apoio ao Império Russo, que foi reforçado pela participação dos ingleses e materializando, assim, o posicionamento da Tríplice Entente. Já a Alemanha, declarou guerra aos integrantes da Tríplice Entente, posicionando-se do lado do Império Austro-Húngaro e dos italianos.

A Primeira Grande Guerra teve como sua principal característica o avanço e a conquista dos territórios com o uso das trincheiras - um tipo de vala adaptada como um grande corredor, cavada no solo, na qual os soldados se escondiam e também atacavam os inimigos. Além dessa técnica de batalha, foram utilizadas novas armas e também tecnologias de combate, como caminhões-tanques e aviões. Houve também o uso de nuvens com gases tóxicos em bombardeios, aumentando ainda mais o número de mortes ao longo do conflito.

Anos finais e a importância do Tratado de Versalhes

O ano de 1917 foi crucial para o fim da Grande Guerra. Em um primeiro momento, a Rússia se retirou do conflito, uma vez que sua economia estava extremamente fragilizada pelos constantes investimentos na indústria bélica, e das novas tensões sociais que indicavam que mais tarde desencadearia uma Guerra Civil Russa. Na sequência, os Estados Unidos entraram no conflito, apoiando a Tríplice Entente, em um cenário no qual as forças alemãs já estavam enfraquecidas pelos embates.

O conflito chegou ao fim em 11 de novembro de 1918, com a vitória da França e a derrota da Alemanha. Além do impactante número de mortes - mais de oito milhões de pessoas -, o embate de 1914 gerou inúmeros prejuízos em larga escala, destruindo e comprometendo campos agrícolas e pátios industriais.

Em 1919, os países envolvidos na guerra assinam o Tratado de Versalhes, que colocou fim às hostilidades militares entre as potências. As nações derrotadas, integrantes da Tríplice Aliança, foram punidas com diversas penalidades, entre as quais, a redução de seus exércitos, o controle sobre suas produções bélicas, a devolução de diversos territórios e, no caso da Alemanha, também arcar com os prejuízos causados pela guerra nos países vencedores.

Devido às altas indenizações, a economia Alemã, que já estava fragilizada, foi ainda mais afetada. Com isso, um sentimento de insatisfação é suscitado no povo alemão, sendo esse um dos fatores que contribuiu para a ascensão do nazismo e também para o desenvolvimento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).


segunda-feira, 19 de abril de 2021

O PERÍODO VARGUISTA E SUAS CONTRADIÇÕES

 

A Era Vargas foi o período de quinze anos da história brasileira que se estendeu de 1930 a 1945 e no qual Getúlio Vargas era o presidente do país. A ascensão de Vargas ao poder foi resultado direto da Revolução de 1930, que destituiu Washington Luís e impediu a posse de Júlio Prestes (presidente eleito que assumiria o país).

A ascensão de Getúlio Dornelles Vargas à presidência aconteceu pela implosão do modelo político que existia no Brasil durante a Primeira República. Ao longo da década de 1920, inúmeras críticas foram feitas ao sistema oligárquico que vigorava em nosso país, sendo os tenentistas um dos movimentos de oposição de maior destaque.

A implosão da Primeira República concretizou-se de fato durante a eleição de 1930. Nessa eleição, a oligarquia mineira rompeu abertamente com a oligarquia paulista porque o presidente Washington Luís recusou-se a indicar um candidato mineiro para concorrer ao cargo. A indicação para presidente foi do paulista Júlio Prestes.

Isso desagradou profundamente à oligarquia mineira, uma vez que a atitude do presidente rompia com o acordo existente entre as duas oligarquias (Política do Café com Leite). Assim, os mineiros passaram a conspirar contra o governo e, aliando-se às oligarquias paraibana e gaúcha, optaram por lançar um candidato para concorrer à presidência: Getúlio Vargas.

A disputa eleitoral travada entre Júlio Prestes e Getúlio Vargas teve como desfecho a vitória do primeiro. No entanto, mesmo derrotados, membros da chapa eleitoral de Vargas (chamada Aliança Liberal) começaram a conspirar para destituir Washington Luís do poder (Vargas, porém, havia aceitado a derrota).

Essa conspiração tornou-se rebelião de fato quando João Pessoa, vice de Getúlio Vargas, foi assassinado em Recife por João Dantas. O assassinato de João Pessoa não tinha nenhuma relação com a eleição disputada, mas o acontecido foi utilizado como pretexto para que um levante militar contra Washington Luís fosse iniciado.

A revolta iniciou-se em 3 de outubro de 1930 e estendeu-se por três semanas. No dia 24 de outubro de 1930, o presidente Washington Luís foi deposto da presidência. Uma junta militar governou o Brasil durante 10 dias e, em 3 de novembro de 1930, Getúlio Vargas, que aderiu à rebelião quando ela estava em curso, assumiu a presidência do Brasil.

 

Fases da Era Vargas:

Os historiadores dividem a Era Vargas em três fases:

®    Governo Provisório (1930-34),

®    Governo Constitucional (1934-37) e

®     Estado Novo (1937-1945).

 

Governo Provisório (1930-34)

O governo provisório, como o próprio nome sugere, deveria ter sido uma fase de transição em que Vargas rapidamente organizaria uma Assembleia Constituinte para elaborar uma nova Constituição para o Brasil. Getúlio Vargas, porém, nesse momento, já deu mostras da sua habilidade de se sustentar no poder, pois adiou o quanto foi possível a realização da Constituinte.

 

Nessa fase, Vargas já realizou as primeiras medidas de centralização do poder e, assim, dissolveu o Congresso Nacional, por exemplo. A demora de Vargas em realizar eleições e convocar uma Constituinte teve impactos em alguns locais do país, como São Paulo, que se rebelou contra o governo em 1932 no que ficou conhecido como Revolução Constitucionalista de 1932.

O movimento foi um fracasso e, após a sua derrota, Getúlio Vargas atendeu as demandas dos paulistas, nomeando para o estado um interventor (governador) civil e nascido em São Paulo, além de garantir a realização de uma eleição em 1933 para compor a Constituinte. Dessa Constituinte, foi promulgada a Constituição de 1934.

A nova Constituição foi considerada bastante moderna para a época e trouxe novidades, como o sufrágio universal feminino (confirmando o que já havia sido estipulado pelo Código Eleitoral de 1932). Junto da promulgação da nova Constituição, Vargas foi reeleito indiretamente para ser presidente brasileiro entre 1934 e 1938. Após isio, um novo presidente deveria ser eleito.

 

Nessa fase, a política econômica de Vargas concentrou-se em combater os efeitos da Crise de 1929 no Brasil. Para isso, agiu comprando milhares de sacas de café e incendiando-as como forma de valorizar o principal produto da nossa economia. Nas questões trabalhistas, autorizou a criação do Ministério do Trabalho em 1930 e começou a intervir diretamente na atuação dos sindicatos.

 

Governo Constitucional (1934-1937)

Na fase constitucional, o governo de Vargas, em teoria, estender-se-ia até 1938, pois o presidente não poderia concorrer à reeleição. No entanto, a política brasileira como um todo – o próprio Vargas, inclusive – caminhava para a radicalização. Assim, surgiram grupos que expressavam essa radicalização do nosso país.

 

Ação Integralista Brasileiro (AIB): grupo de extrema-direita que surgiu em São Paulo em 1932. Esse grupo possuía inspiração no fascismo italiano, expressando valores nacionalistas e até mesmo antissemitas. Tinha como líder Plínio Salgado.

 

Aliança Libertadora Nacional (ANL): grupo de orientação comunista que surgiu como frente de luta antifascista no Brasil e converteu-se em um movimento que buscava tomar o poder do país pela via revolucionária. O grande líder desse grupo era Luís Carlos Prestes.

 

A ANL, inclusive, foi a responsável por uma tentativa de tomada do poder aqui no Brasil em 1935. Esse movimento ficou conhecido como Intentona Comunista e foi deflagrado em três cidades (Rio de Janeiro, Natal e Recife), mas foi um fracasso completo. Após a Intentona Comunista, Getúlio Vargas ampliou as medidas centralizadoras e autoritárias, o que resultou no Estado Novo.

 

Essa fase constitucional da Era Vargas estendeu-se até novembro de 1937, quando Getúlio Vargas realizou um autogolpe, cancelou a eleição de 1938 e instalou um regime ditatorial no país. O golpe do Estado Novo teve como pretexto a divulgação de um documento falso conhecido como Plano Cohen. Esse documento falava sobre uma conspiração comunista que estava em curso no país.

 

Estado Novo (1937-1945)

O Estado Novo foi a fase ditatorial da Era Vargas e estendeu-se por oito anos. Nesse período, Vargas reforçou o seu poder, reduziu as liberdades civis e implantou a censura. Também foi o período de intensa propaganda política e um momento em que Vargas estabeleceu sua política de aproximação das massas.

No campo político, Vargas governou a partir de decretos-leis, ou seja, as determinações de Vargas não precisavam de aprovação do Legislativo, pois já possuíam força de lei. O Legislativo, por sua vez, foi suprimido e, assim, o Congresso e as Assembleias Estaduais e Câmaras Municipais foram fechadas. Todos os partidos políticos foram fechados e colocados na ilegalidade.

A censura instituída ficou a cargo do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), responsável por censurar as opiniões contrárias ao governo e produzir a propaganda que ressaltava o regime e o líder. Para fazer a propaganda do governo, foi criado um jornal diário na rádio chamado “A Hora do Brasil”.

Durante esse período, também se destacou a política trabalhista, destacando-se a criação do salário-mínimo (1940) e Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) em 1943. Os sindicatos passaram para o controle do Estado.

A participação brasileira na Segunda Guerra e o desgaste desse projeto político autoritário enfraqueceram o Estado Novo perante a sociedade. Assim demandas por novas eleições começaram a acontecer. Pressionado, Vargas decretou para o fim de 1945 a realização de eleição presidencial e, em outubro desse mesmo ano, foi deposto do poder pelos militares.

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Por Daniel Neves Graduado em História encontrado em: https://brasilescola.uol.com.br/historiab/era-vargas.htm

segunda-feira, 12 de abril de 2021

A QUESTÃO DA INSERÇÃO DOS NEGROS NO PERÍODO REPUBLICANO DO PÓS ABOLIÇÃO

 Com a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1888, aproximadamente 700 mil pessoas escravizadas conquistaram sua liberdade e enfrentaram novos desafios na condição de libertos.

     A abolição da escravatura, que aconteceu no Brasil em 13 de maio de 1888, foi um dos acontecimentos mais importantes de nossa história. Esse foi um assunto que atravessou o debate político no Brasil durante todo o século XIX, e a abolição só aconteceu por meio de uma campanha popular aliada à resistência das pessoas escravizadas.

     Com a abolição, estas pessoas conquistaram a sua liberdade e seus antigos donos não receberam nenhum tipo de indenização por isso. Uma pergunta muito importante que surge desse assunto é: como ficou a vida das pessoas escravizadas, após a Lei Áurea?

Antes de tudo, é necessário entendermos um pouco do contexto pós-abolição. A luta pelo fim da escravidão no país foi algo que se estendeu durante todo o século XIX. Ao longo desse século, as pessoas escravizadas resistiram de diversas maneiras e em diversos locais do país. Seja por meio de fugas, seja por meio de revoltas, elas demonstraram diversas vezes a sua insatisfação.

       A escravidão no Brasil era uma instituição que existia desde meados do século XVI, tendo sido introduzida pelos portugueses durante a colonização. Com a nossa Independência, essa instituição cresceu e tornou-se profundamente presente em nossa sociedade. A quantidade de pessoas escravizadas que entrou no Brasil via tráfico negreiro, a partir do século XIX, evidencia isso.

  O primeiro passo para a abolição da escravidão em nosso país deu-se com a proibição do tráfico por meio da Lei Eusébio de Queirós, em 1850. Essa lei foi aprovada como forma de evitar um conflito com a Inglaterra — país que pressionava o Brasil, havia décadas, pelo fim do tráfico negreiro.

     A proibição do tráfico de escravos deu início a um lento processo que resultou na abolição da escravatura quase quatro décadas depois. O movimento abolicionista ganhou real força na sociedade brasileira a partir da década de 1870. A mobilização pelo fim da escravidão aconteceu em diferentes níveis e contou com a participação de intelectuais, classes populares e, principalmente, com o envolvimento das próprias pessoas escravizadas.

     As pessoas escravizadas se organizavam e preparavam fugas individuais ou em massa e, para isso, reuniam-se em quilombos que cresciam ao redor das grandes cidades. Outras vezes organizavam revoltas contra os seus senhores. A resistência africana contou com o apoio de grupos da sociedade que a abrigavam quando estava em fuga, incentivavam-na a rebelar-se, davam apoio jurídico, defendiam a causa politicamente etc.

     O enfraquecimento da escravidão no Brasil, resultado do esforço do movimento abolicionista, é claramente identificado por meio da população de pessoas escravizadas que foi diminuindo consideravelmente ao longo do século XIX, conforme levantamento do historiador João José Reis:

1818: 1.930.000

1864: 1.715.000

1874: 1.540.829

1884: 1.240.806

1887: 723.419

 

     No final da década de 1880, a manutenção da escravidão era praticamente inviável, pois, ao mesmo tempo que afetava a imagem internacional do Brasil (o último país da América a ainda utilizar o trabalho de pessoas escravizadas), afetava a ordem interna do país, já que o Império não conseguia mais controlar a situação e as fugas eram frequentes.

     Assim, em 13 de maio de 1888, foi aprovada a Lei Áurea. Essa lei, primeiramente, foi aprovada no Senado e depois foi encaminhada para que a princesa regente, princesa Isabel, assinasse-a. A Lei Áurea garantiu a liberdade para estas pessoas escravizadas de maneira imediata, e seus “donos” não receberam nenhum tipo de indenização.

     Com essa lei, os libertos agora estavam livres para buscarem uma vida melhor. A vida destas pessoas pós-abolição continuou não sendo fácil, principalmente pelo fato de que o preconceito na sociedade era evidente e porque não houve medidas para integrá-los economicamente na sociedade. Vejamos abaixo como foi o contexto imediato da vida das pessoas escravizadas, após a abolição.

 A primeira grande reação dos libertos com a Lei Áurea foi, naturalmente, comemorar. À medida que a notícia se espalhava, grandes comemorações eram realizadas e festas aconteceram tanto nas grandes cidades, como nas zonas rurais do Brasil. Uma vez passada a euforia, a nova situação levou os libertos a procurarem melhores alternativas para viver, e Walter Fraga, utilizando o cenário do Recôncavo Baiano, fala que uma das reações dos libertos foi se mudar.

     Assim, muitos libertos abandonando as fazendas nas quais foram escravizados e mudaram-se para outras ou então foram para cidades. Essas migrações de libertos aconteceram por múltiplos fatores. Mudavam-se para se distanciar dos locais em que foram escravizados, ou então iam para outros lugares procurar parentes e se estabelecer juntos desses, ou até mesmo, procurar melhores salários, conforme descreve Walter Fraga. 

Essas migrações, na maioria dos casos, eram uma ação mais realizada pelos homens jovens, por terem melhores possibilidades de se estabelecer em uma terra para cultivá-la. As mulheres que possuíam filhos e os idosos tinham menos possibilidades de migrar à procura de melhores condições.

     A migração dos libertos gerou uma reação de grandes proprietários e das autoridades daquela época trazendo-lhes muita insatisfação, sobretudo porque os primeiros não aceitavam mais as condições de trabalho degradantes que existiam antes de 1888 e porque estavam sempre em busca de melhores salários. Assim, os grandes proprietários, sobretudo do interior do país, começaram a pressionar as autoridades para que elas reprimissem essa movimentação.

     Com isso, os grupos de libertos que migravam começaram a sofrer com a repressão e foram sendo taxados de vadiagem e vagabundagem. Essa medida focava, sobretudo, aos mais insubordinados e que costumavam não aceitar as condições impostas pelos grandes proprietários.

     Muitas vezes também, os grandes fazendeiros e antigos donos de pessoas escravizadas impediam que os libertos fizessem suas mudanças. Muitos desses eram ameaçados fisicamente para que não se mudassem, e outra estratégia utilizada era a de tomar a tutoria dos filhos dos libertos. Inúmeros grandes proprietários acionavam a justiça para ter a tutoria sobre as crianças e com isso forçavam esses a permanecerem em sua propriedade. Houve, inclusive, casos de filhos de libertos que foram sequestrados.

     Existiram senhores de escravos que não aceitavam pagar salários para os libertos, mas havia muita resistência por parte dos libertos quanto a isso. Após a Lei Áurea, os libertos passaram a questionar as condições que lhes eram oferecidas e essa atitude passou a ser vista como insolência. A repressão mencionada anteriormente foi uma resposta dos grandes fazendeiros a isso.

     Se os libertos não encontrassem condições que lhes agradassem, e se tivessem outras condições, a migração era sempre uma opção. Os pagamentos exigidos eram realizados diariamente ou semanalmente e a jornada deveria ter um limite. Aqueles que se mudavam para as cidades acabavam aprendendo diferentes ofícios, tais como o de marceneiro, charuteiro (produtor de charuto), servente, pedreiro etc. As mulheres, na maioria dos casos, assumiam posições relacionadas com o trato doméstico.

     Logo após a abolição da escravatura, uma das questões mais importantes, e que foi definidora para garantir a manutenção do liberto como um indivíduo marginal e subalterno na pirâmide social, foi a questão da terra. Não foi realizada reforma agrária e, assim, a grande maioria dos 700 mil libertos, a partir de 1888, não teve acesso à terra, sendo esses forçados a sujeitarem-se aos salários baixos oferecidos pelos grandes proprietários.

     A falta de acesso à educação por parte dos libertos, como mencionado em uma citação anterior, era uma preocupação para esses e foi uma questão fundamental para manter esse grupo marginalizado. Sem acesso ao estudo, esse grupo permaneceu sem oportunidades para melhorar sua vida.

     Após a abolição, muitos libertos acabaram optando por retornarem ao continente africano, dada as dificuldades encontradas aqui para eles. Todas as dificuldades, porém, não foram impeditivos para fazer com que os libertos relembrassem e comemorassem o 13 de maio como um marco da sociedade brasileira.

 

 https://portal.educacao.go.gov.br/fundamental_dois/atividade-3-a-questao-da-insercao-dos-negros-no-periodo-republicano-do-pos-abolicao/